A humanidade, obrigada a se recolher, busca sobreviver. A anterior pulsação dos grandes centros urbanos, paisagens artificiais forjadas pela mão humana, esvai-se pela ausência das pessoas. O iminente perigo de morte e o instinto de sobrevivência, que levam ao isolamento social, ressaltam a indistinção entre o ser humano e qualquer outra espécie vivente integrantes do mesmo organismo, vivo e complexo, chamado Terra.
As imagens, acúmulos sobrepostos de pontos de vista distintos de um mesmo local, aludem as práticas humanas antes do vírus: uma vida chamada normal. Esse modelo de normalidade é posto em xeque tanto pela adição, como camada imagética, do mapa temático da expansão do Covid-19 a partir da primeira vítima fatal dessas paisagens, quanto pelo valor dado às coisas criadas por essa mesma humanidade.
Os comportamentos humanos, agora diversos, prezam por uma garantia de sobrevivência frente à proximidade com a morte e pelo retorno das relações sociais físicas, agora nulas. Nota-se um caos silencioso dessas cidades esvaziadas, sem função e sem vida aparentes.
Destituídas de seu encargo original, as imagens das câmeras “ao vivo” e dos satélites (Google Earth e Street View, por exemplo), são apropriadas para constituírem-se como camadas de um tempo passado, no presente, ansioso para que exista um futuro. Essa incerteza temporal é o que me conduz a olhar, de dentro da minha casa para o mundo no qual ambos (eu e casa) estamos inseridos. Confinado, procuro pela vida; não a de antes, mas a que virá.
Quando apenas a incerteza existe, afloram imagens cheias de outras imagens: um acúmulo do prévio no vazio do agora. Sem encerrar-se em si mesmo, “Nemo non videt” (literalmente 'ninguém não vê'), usa do Argus mecânico humano para duvidar se, de fato, “Todos veem”.